Sem sombra de dúvidas, Stephen King é conhecido por inigualáveis obras de terror, que costumam abordar temas complexos e impactantes. O autor já teve várias de suas obras adaptadas para cinema, como Carrie e O Iluminado, e outras tantas adaptadas para o mundo das séries e das minisséries, como a recente Under The Dome, por exemplo. Outro aspecto indiscutível sobre King é sua capacidade de desenvolver e criar personagens com uma incrível proximidade às diversas personalidades humanas, assim, os leitores automaticamente se identificam com essas criações construindo, inclusive, laços afetivos de difícil desvinculação. Fato notório em O Iluminado.
A família Torrance, composta por Jack (pai), Wendy (mãe) e Danny (filho), é extremamente complexa. Jack se tornou um adulto frustrado por não ter obtido êxito profissional desejado (Jack é professor em uma pequena escola), fato que, aliado aos problemas familiares que passou durante a infância, contribuiu para sua dependência alcoólica. Wendy é dona de casa, muito embora tenha frequentado o ensino superior, e, assim como o marido, teve uma difícil infância. Danny, por sua vez, é um menino muito especial, porém solitário, que possui um único amigo, Tony, fruto de sua imaginação. Bom... pelo menos achamos ser.
Jack, após um ato descontrolado enquanto embriagado, acaba por machucar Danny e, arrependido, decide de vez dar um jeito na vida e largar a bebida. Posteriormente, muito talvez devido à abstinência, Jack acaba agredindo um aluno e sendo demitido. Assim, ainda desejando reconstruir a vida e prover condições melhores para a criação de Danny, Jack consegue um emprego temporário, como zelador de um grande hotel, o Hotel Overlock, durante o inverno, período em que o estabelecimento fica fechado ao público. E é aí que as “tretas” tem início.
Já trabalhando no hotel, Jack desenvolve uma absurda necessidade de melhor conhecer a história do local, passando horas a fio lendo antigas reportagens sobre os trágicos incidentes lá ocorridos, bem como sobre as famosas festas frequentadas por célebres hospedes, e a cada novo fato descoberto, Sr. Torrance dá um passo em direção à sua fundição ao hotel.
De outro lado, Danny passa a ter crises (desmaios e, as vezes, convulsões) mais frequentes, onde Tony lhe mostra os perigos do hotel e a iminente destruição da família.
E, alheia a todos os acontecimentos, Wendy segue sua vidinha pacata de tricotar e fazer as refeições da família.
Ao longo da história, temos acesso a diversas variáveis, comportamentos e reflexões, que agem como justificativas que auxiliam na manifestação da conduta psicótica de Jack e da construção das barreiras que aprisionam sua alma ao velho Overlock. Assim, King, ao recriar o personagem composto por infinitas características complexas tipicamente humanas, absorve o leitor para dentro da história, obrigando-o à cumplicidade. De outra mão, temos também as aparições bizarras e apavorantes, repito, A-PA-VO-RAN-TES, que surgem no hotel, extremamente bem descritas e dignas de arrepios e noites mal dormidas.
No entanto, o que mais me impressionou na narrativa não foram os arrepios e as noites mal dormidas e sim, o enfoque e a dedicação do autor em criar os personagens tão humanos a ponto de, praticamente, tornar impossível manter distância emocional, deixando o leitor, ao mesmo tempo, culpado diante da cumplicidade das atrocidades expressas pelo patriarca da família e aterrorizado ao se colocar no papel das vítimas. Nesse sentido, posso afirmar que O Iluminado se tornou uma das minhas obras favoritas a serem lidas durante o dia. Sim, durante o dia. Apenas.
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