domingo, 20 de novembro de 2016

Resenha | Baseado Em Fatos Reais, de Delphine de Vigan

Machado de Assis, no livro Dom Casmurro, nos presenteou com uma eterna dúvida, que até hoje (e provavelmente pelas próximas gerações) é - e será - protagonista de discussões calorosas: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? O fato é que ninguém sabe (talvez nem Machado) e existem argumentos suficientes para ambos os lados. 

Baseado Em Fatos Reais nos presenteia com o mesmo grau de dúvida: o que estamos lendo é ficção ou é realidade? Ninguém sabe, exceto Delphine, autora do livro e protagonista da nossa história, que nos apresenta argumentos para aceitar qualquer uma das realidades.

No livro, Delphine, aparentemente, abre ao leitor as portas de sua intimidade, demonstrando um grande período de sua história, contando suas participações em eventos, sessões de autógrafos, relações familiares, seu processo criativo (ou a ausência dele) e, principalmente, seu envolvimento com L., nossa personagem misteriosa.

Delphine conheceu L. em uma festa e a empatia foi imediata. Nos dias seguintes saíram juntas, tomaram café, reconheceram afinidades e até mesmo um passado em comum, embora nebuloso. Segundo L., as amigas haviam estudado juntas e possuíam vários conhecidos, fato que foi comprovado por L. ao lembrar de detalhes e nomes que Delphine havia muito arquivado em seu passado.

A amizade entre as duas escritoras (sim, L. também é escritora - uma ghost writer) cresce exponencialmente, especialmente quando Delphine desenvolve um persistente pânico de escrever, oriundo da constante pressão da fama, dos fãs e da própria editora.

Durante a crise, L. passa a substituir Delphine em pequenos eventos (segundo a autora, além de semelhanças de personalidade e profissão, as amigas também eram parecidas fisicamente), passa a responder seus e-mails (o pânico de Delphine lhe impossibilita até mesmo de ligar o computador), organiza sua casa e até mesmo paga suas contas.

De forma resumida, a dependência de Delphine por L. se sobrepõe à sua própria existência e aos poucos a famosa escritora definha no ambiente de comodidade e escuridão que criou.

Contudo, em um momento de lucidez, Delphine começa a desconfiar de determinadas ações de L. e percebe que há algo ainda mais suspeito nas histórias incrivelmente familiares que conta.

O maior problema de tudo isso é que L., na visão de Delphine, é ardilosa e extremamente cuidadosa: a gohst writer garantiu que nenhum amigo ou familiar de Delphine a conhecesse, muito menos contou histórias verdadeiras que possibilitassem estabelecer qualquer vínculo à sua real (ou não) identidade.

E de repente, L. some, como se nunca houvesse existido, deixando sua marca apenas em Delphine que não tem meios de comprovar sua existência.

Nessa narrativa, as personagens discutem constantemente sobre o que é mais aceito pelos leitores, a realidade ou a ficção? E nessa mesma linha de raciocínio Delphine intriga o leitor: L. existiu ou foi apenas uma projeção feita por ela em um momento de instabilidade emocional?

Não sabemos a resposta e nem Delphine nos conta, mas garanto que no livro há argumentos que possibilitam ambas as interpretações e colocam à prova nossa própria sanidade.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Diferenças entre as edições de Harry Potter e A Criança Amaldiçoada

Uma das maiores dúvidas daqueles que ainda não adquiriram o oitavo livro da série Harry Potter (e tampouco o viram pessoalmente) é justamente as diferenças entre as edições da editora Scholastic (Esta dos Unidos) e da editora Rocco (Brasil), ambas capa dura.

Então separamos alguns pontos que valem a pena ressaltar.


Começando pela jacket (aquela "capa" que reveste o livro): sinceramente, achei a da versão brazuca infinitamente superior. O material é emborrachado, enquanto que na edição gringa ele é "poroso" e bem mais fino. Outra diferença é que a jacket brasileira é lisa e a norte-americana possui relevo tanto na lombada quanto nas letras e na ilustração. O efeito é legal, mas já vi melhores.


A parte de trás da jacket também possui diferenças. Enquanto a edição brasileira apresenta um visual mais "clean", a edição importada traz uma arte envernizada e texto em relevo, no mesmo padrão da capa.


Último aspecto sobre a jacket é a lombada, que na edição brasileira possui fundo preto, letras escuras e nenhum tipo de relevo, enquanto que a norte-americana possui fundo claro, letras escuras  relevo.


As orelhas da jacket possuem grandes diferenças igualmente estéticas: em uma edição, fundo claro e letras escuras e na outras fundo escuro e letras claras. 



Retirando a jacket, já podemos ver mais uma diferença. A edição gringa mantém o padrão hardcover das edições anteriores, apresentando capa preta e lateral e lombada colorida. A edição brasileira apresenta capa inteiramente preta e uma pequena ilustração no centro.


A lombada também apresenta diferenças. A brasileira, assim como na jacket, possui fundo preto e letras claras. Na gringa, fundo claro e letras escuras. 


De forma resumida, essas são as principais diferenças na apresentação. Na minha opinião, a edição brasileira é infinitamente melhor, pois traz apresentação discreta e clássica e qualidade de impressão fantástica. Sem dúvidas, caso ainda não tivesse comprado, teria adquirido a nossa edição. Parabéns, editora Rocco!







terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Resenha | Todos Os Nossos Ontens, de Cristin Terrill

Todos os Nossos Ontens, escrito por Cristin Terrill, não é apenas um livro de capa bonita que veio acompanhado de um marcador de páginas fantástico. O livro é simplesmente uma das melhores distopias que já li.

A intenção da história é deixar o leitor com a pulga atrás da orelha diante da afirmação "destrua o passado para salvar o seu futuro", sobretudo ao obriga-lo a imaginar como que raios seria possível realizar tal proeza e o que há de tão ruim no futuro.

Assim, a história começa nos apresentando Em e Finn, dois prisioneiros do terrível Doutor, em algum momento no futuro. Os prisioneiros são constantemente torturados a fim de que revelem a localização de algo (ainda desconhecido pelo leitor) essencial para o Doutor e o governo (que estão destruindo o mundo).

Em um determinado momento, Em se dá conta de que a única forma de evitar o destino trágico do mundo é alterando o passado. Mas como? Obviamente não contarei, mas digo que no universo apresentado no livro é possível.

Em e Finn acabam então voltando ao passado, momento em que devem, ironicamente, correr contra o tempo para realizar as devidas alterações, mas evitando atitudes drásticas que possam trazer resultados mais negativos ao futuro.

E então fica a pergunta: "Será que Em e Finn conseguirão alterar o futuro como planejado?" Bom, só lendo para saber.

Quanto à leitura, posso dizer que foi extremamente agradável e fluída, graças aos momentos constantes de ação. Ainda, além da história de Em e Finn do futuro, em contraste, acompanhamos a história de Marina (Em) e Finn do presente, que buscam entender o porquê de tantos acontecimentos malucos e aparentemente sem sentido.

Todos os Nossos Ontens se tornou uma das minhas melhores leituras do gênero em 2015 e item permanente da minha lista de indicações de leitura.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Resenha | A Desconhecida, de Peter Swanson


A Desconhecida, escrito por Peter Swanson e publicado pela editora parceira Novo Conceito, promete apresentar uma história sombria com um quê de Hitchcock.

Antes de continuar, para aqueles que desconhecem, quando o livro diz "Hitchcock", ele se refere ao diretor cinematográfico Alfred Hitchcock, conhecido por ser o mestre o suspense e dirigir, entre outros, os clássicos filmes Psicose e Os Pássaros.

Feita essa ressalva, percebemos que a promessa feita é de grande responsabilidade, o que cria grandes expectativas.

Logo no prefácio, o Autor nos apresenta o protagonista, George Foss, que está a procura de algo que nem ele sabe o que é, deixado por uma pessoa ainda não apresentada na história, mas que presumimos ser a desconhecida a que o título se refere. Por óbvio, essa simples apresentação já é suficiente para começar a nos intrigar.

Quando a história de fato se inicia, somos apresentados a um George normal que leva uma vida chata (um adulto que trabalha com algo que não é exatamente o que gosta, mas que é suficiente, e cuja vida amorosa é confortável e descomprometida) mas motivada por sua obsessão em reencontrar uma antiga paixão da juventude, uma fugitiva da polícia.

Ainda logo no início, George sem querer (ou ao menos ele assim acha) encontra sua paixão em um dos bares que frequenta assiduamente, dando início, assim, a toda a trama proposta.

A história do início ao fim manipula o leitor de forma razoalvelmente eficaz, pois acompanhamos a história na perspectiva de um homem cegamente apaixonado e bastante influenciável, o que torna a trama um mistério ansioso por ser desvendado e consideravelmente traiçoeiro.

Nesse sentido, até certo ponto, a história de fato cumpre o prometido, ou seja, apresentar um mistério inspirado nas histórias contadas no cinema pelo mestre Hitchcock, contudo, a criação das conspirações e mistérios acaba se desenrolando de forma infantil e transmite a ideia de que a escrita do autor é imatura.

Assim, na minha concepção, a história que durante boa parte de seu transcurso apresentava grande potencial acabou se perdendo diante da aparente "falta de prática" da escrita do autor, o que influenciou negativamente na resolução da trama e consequentemente na desestruturação da lógica do suspense.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Mês do Horror | O que será lido

Outubro chegou e com ele a já tradicional maratona do horror! 

Para aqueles que não sabem, há três anos a Tati do Tiny Little Things vem fazendo no mês de outubro uma maratona com livros de horror, medo e morte. A ideia principal é, obviamente, dedicar o mês à leituras dos mencionados gêneros.

Então, separei minha pequena listinha de livros que gostaria de ler neste mês (claro que não vou conseguir ler todos, mas né) e já alerto: além da temática horror, medo e morte, adicionei livros de suspense:

- A Árvore do Halloween
- Histórias Extraordinárias (Edgar Allan Poe)
- O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson)
- Caixa de Pássaros (Josh Malerman)
- Objetos Cortantes (Gillian Flynn)
- Lugares Escuros (Gillian Flynn)
- Joyland (Stephen King)
- A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Washington Irving)
- Tubarão (Peter Benchley)
- Entrevista Com o Vampiro (Anne Rice)
- O Demonologista (Andrew Pyper)
- A Noite dos Mortos-Vivos (John Russo)
- O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares (Ransom Riggs)
- O Diário de Drácula (Marin Mincu)

E vocês? Já fizeram suas listinhas?

Resenha | Para Continuar, de Felipe Colbert

Felipe Cobert, editor e autor da Editora Novo Conceito, presenteou os leitores  com mais uma emocionante e sensível história. O autor, que já havia lançado Belleville pela mesma editora, lançou neste segundo semestre de 2015, o livro Para Continuar.

Na história acompanhamos Leonardo César, um garoto comum, como você e eu (exceto por possuir insuficiência cardíaca), que conhece no metrô de São Paulo uma linda jovem asiática e por ela se apaixona. Bom, já sabemos que uma nova paixão e problemas cardíacos formam uma combinação perigosa, mas e se misturarmos a esses pontos a máfia japonesa e misteriosas lâmpadas típicas da mencionada cultura oriental? Parece estranho, né? Mas te garanto que não é.

Ayako, jovem por quem Leonardo se apaixona, vive com seu avô e Ho, no andar de cima de uma pequena loja, localizada no bairro da Liberdade. Quando Leonardo descobre o local, de imediato toma uma dose de coragem e tenta se aproximar de Ayako. Porém, as coisas acabam não saindo como planejado, pois na visita, Leo descobre que Ho é perdidamente apaixonado pela japonesa e que ele é primo de Kong, o líder da gangue que domina o bairro.

De outro lado, temos o mistério que cerca as curiosas lâmpadas orientais escondidas no porão da loja, que de forma alguma podem ser descobertas e/ou tocadas por qualquer um que não seja Ayako ou ojisan (seu avô). Assim, a dupla, como manda a tradição familiar, cuida e protege o local e garante a "sobrevivência" das lâmpadas e, sobretudo, garante a "sobrevivência" daquilo que elas representam. O que pode ser bastante perigoso.

Falei que a combinação não era estranha, não é?

Como vocês já devem ter percebido, o que mais me chamou a atenção na leitura, além da abordagem da cultura oriental (que acho fantástica), foi a sensibilidade do Autor, pois através de sua escrita, o leitor consegue sentir a pureza da história, o que deixa a leitura irresistível.

Contudo, para descobrir o desfecho da história e o que acontece com o triângulo amoroso, as lâmpadas e a máfia, você precisará ler o livro, porque resenha alguma conseguirá transmitir de forma adequada a sensibilidade da história e os elos que unem esses aspectos aparentemente desconexos. Mas posso garantir que vale a pena!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Leituras Obrigatórias | Isto, de Fernando Pessoa

Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo, 
O que me falha ou finda, 
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda. 
Essa coisa que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir! Sinta quem lê!