Machado de Assis, no livro Dom Casmurro, nos presenteou com uma eterna dúvida, que até hoje (e provavelmente pelas próximas gerações) é - e será - protagonista de discussões calorosas: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? O fato é que ninguém sabe (talvez nem Machado) e existem argumentos suficientes para ambos os lados.
Baseado Em Fatos Reais nos presenteia com o mesmo grau de dúvida: o que estamos lendo é ficção ou é realidade? Ninguém sabe, exceto Delphine, autora do livro e protagonista da nossa história, que nos apresenta argumentos para aceitar qualquer uma das realidades.
No livro, Delphine, aparentemente, abre ao leitor as portas de sua intimidade, demonstrando um grande período de sua história, contando suas participações em eventos, sessões de autógrafos, relações familiares, seu processo criativo (ou a ausência dele) e, principalmente, seu envolvimento com L., nossa personagem misteriosa.
Delphine conheceu L. em uma festa e a empatia foi imediata. Nos dias seguintes saíram juntas, tomaram café, reconheceram afinidades e até mesmo um passado em comum, embora nebuloso. Segundo L., as amigas haviam estudado juntas e possuíam vários conhecidos, fato que foi comprovado por L. ao lembrar de detalhes e nomes que Delphine havia muito arquivado em seu passado.
Delphine conheceu L. em uma festa e a empatia foi imediata. Nos dias seguintes saíram juntas, tomaram café, reconheceram afinidades e até mesmo um passado em comum, embora nebuloso. Segundo L., as amigas haviam estudado juntas e possuíam vários conhecidos, fato que foi comprovado por L. ao lembrar de detalhes e nomes que Delphine havia muito arquivado em seu passado.
A amizade entre as duas escritoras (sim, L. também é escritora - uma ghost writer) cresce exponencialmente, especialmente quando Delphine desenvolve um persistente pânico de escrever, oriundo da constante pressão da fama, dos fãs e da própria editora.
Durante a crise, L. passa a substituir Delphine em pequenos eventos (segundo a autora, além de semelhanças de personalidade e profissão, as amigas também eram parecidas fisicamente), passa a responder seus e-mails (o pânico de Delphine lhe impossibilita até mesmo de ligar o computador), organiza sua casa e até mesmo paga suas contas.
De forma resumida, a dependência de Delphine por L. se sobrepõe à sua própria existência e aos poucos a famosa escritora definha no ambiente de comodidade e escuridão que criou.
Contudo, em um momento de lucidez, Delphine começa a desconfiar de determinadas ações de L. e percebe que há algo ainda mais suspeito nas histórias incrivelmente familiares que conta.
O maior problema de tudo isso é que L., na visão de Delphine, é ardilosa e extremamente cuidadosa: a gohst writer garantiu que nenhum amigo ou familiar de Delphine a conhecesse, muito menos contou histórias verdadeiras que possibilitassem estabelecer qualquer vínculo à sua real (ou não) identidade.
E de repente, L. some, como se nunca houvesse existido, deixando sua marca apenas em Delphine que não tem meios de comprovar sua existência.
Nessa narrativa, as personagens discutem constantemente sobre o que é mais aceito pelos leitores, a realidade ou a ficção? E nessa mesma linha de raciocínio Delphine intriga o leitor: L. existiu ou foi apenas uma projeção feita por ela em um momento de instabilidade emocional?
Não sabemos a resposta e nem Delphine nos conta, mas garanto que no livro há argumentos que possibilitam ambas as interpretações e colocam à prova nossa própria sanidade.